segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A Voz


(...) Desde então
É que data o que enfim dizemos minha chaga,
Minha fatalidade. E por trás da ilusão
Desta existência, imensa, e no mais negro abismo,
Eu posso distinguir os mundos singulares,
E, vítima por fim deste êxtase em que cismo,
Eu arrasto reptis junto aos meus calcanhares.
E assim como um profeta é que eu, desde este dia,
Adoro docemente o deserto e o mar largo,
Que eu choro nos festins e rio na agonia
E acho um suave sabor no vinho mais amargo,
Que eu eu tomo com freqüência os fatos por ficções,
que eu olho pra cima e vou caindo aos poucos.
Mas me consola a voz: "Ah, conserva as ilusões!
Pois não sonham melhor os sábios do que os loucos!"

Charles Baudelaire

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