quinta-feira, 26 de maio de 2011

Por Patativa Moog!

OS DIAS & AS NOITES CLARAS


Os únicos paraísos verdadeiros são os que perdemos
Não é o instante que devemos colher; não, não é
mas o eterno presente de tudo o que dura & passa...
É preciso dar razão a Proust, a Shaw, a Bergson, a Zola
& é preciso pensar no tanto que isso realmente importa
porque, a quem não nos interessa, ah!, que se dane!
& quanto à sua razão? À merda com toda a sua razão!

É preciso saber que o inconsciente vai mais além...
... que a razão, quanto maior, tanto mais paradoxal
que a intuição & o inconsciente podem dizer mais
que a civilização não foi construída sobre a técnica, não
mas sobre a intenção. Sim, sim!, sobre a maldita intenção
Que a intencionalidade é a marca de toda consciência
que toda consciência é consciência de alguma coisa
que a consciência é caracterizada pela finalidade
que a dirige sempre a um objeto determinado &...
... ah! garota, venha cá, venha: acenda o meu fogo
acenda o meu cigarro & encha o meu copo de Black Stone
... é o melhor que posso por esses dias miseráveis
&, além do mais, o que importa mesmo é o resultado
& não o meio, não – é bem como ensinava Maquieval
Venha cá, venha! Ainda temos umas horas noite adentro
& o dia vai desfazer a nossa ilusão de um orgasmo cósmico
tão logo a clara manhã se anuncie aí, desavergonhada...

... ah, garota! Você me pede canções de amor
& eu somente peço que me esqueça, & para sempre
que me abandone como sempre faz, & faz muito bem
porque eu não sou (mesmo!) um bom lugar para estacionar
porque eu não tenho nenhuma fé, como o seu macho α
& a Gabriele tem razão quando diz que são loucas, sim
que são loucas todas as garotas que me têm amor
as que me pedem canções & algum afeto, algo de bom...

... ah!, a vida me ensinou a ser isto: um porco espinho!
Mas o Novalis me vê a mim como um ideal a ser atingido
& se me fragmento em fractais & notas dissonantes
& que a covardia é uma cama boa, um cobertor no frio...
... ah, garota natural!, você sabe como funciona:
primeiro é a fome, depois a saciedade, & depois o tédio
& a vontade de ver a vida passando como em um filme
um filme em branco & preto, em um janeiro de 87
quando você nasce &, daí em diante, começa a morrer...
... ah, garota natural! Vá!, corra!, corra para a vida!
Quando é que chegaremos ao lado oposto do arco-íris?
Quando a canção que você ama não achar ouvidos?
Quando os seus desenhos perderem a cor & o sentido?
Quando o seu cantor estiver afônico & longe daqui?...

... oh! garota, venha cá, venha! Acenda o meu fogo
acenda o meu cigarro & encha o meu copo de Vat 69
... é o melhor que tenho por esses dias tão miseráveis
dias de um amor tão perto &, depois, tão longe, tão longe
dias de um sexo desconhecido, de anjos embriagados
dias em que o que era tão cedo é, já, agora, tão tarde...
esperando por um fim de mundo que deve começar, aqui

... ah! garota verde, venha cá, venha! Acenda o meu fogo
acenda o meu cigarro & encha o meu copo de Vat 69, cowboy
... é o que posso por esses dias, por esses dias intermináveis



OS DIAS & AS NOITES CLARAS

(segunda parte)



É uma madrugada delirante, como tantas; é...
... daquelas em que o sono chega tarde demais
– ou muito cedo, conforme a perspectiva –
& a garota lhe diz, voz de Girassol, ao telefone:
– Bom dia, P. Vamos tomar café juntos?, hum?
– Bom dia? Em que planeta, pequena?
– Ah!? – ela não entende, & pergunta “o quê?”
– Nada – você responde. – Tomar café aonde?
– Em sua casa, pode? – Ela diz, perguntando.
– Hum, rum... pode sim; e pode ser agora, 05:20...
Você fala, sim; assim: depois de alguns segundos
você fala, sim; decidido, voz amassada, cara encardida
– Você traz algo para comer, & eu faço o café...
... que eu não tenho nada além disso mesmo
nem na geladeira & nem na porra do armário
aliás – você se lembra –, também não tenho armário

É outro dia começa, ao acaso, como tantos outros
depois da noite morrida de claridade & de tédio
depois do show dos passarinhos exibidos, cantadores
– Puta merda! – você reclama, impiedoso, imperioso:
– Ah!, passarinho; cala a boca! Cala a boca, caralho!



OS DIAS & AS NOITES CLARAS

(parte final)


A sua voz me diz, bem longe, feliz:
“Estou fazendo faxina, & você?”
Eu? Estou andando na rua, respondo
perto da casa onde você mora, olha!

I

Mas você não está aqui, ah!... silencio...
(Os carros passam, & as pessoas sem rostos
& o dia está escuro & vai chover
& a voz do Tempo é muda, coadjuvante
& os sinais ficam amarelos, & verdes
& eu avanço, sem pensar que avanço...
... que quem pensa que avança deixa de ir
detêm-se no pensamento temerário do querer)
... ainda silencio & penso se um dia já esteve
Não é estranho que pessoas vivam em nós
depois que partem para muito longe?
Não é estranho que pensemos nelas
quando vem o sol ou quando vem a chuva?
Porque as ruas são povoadas pelos fantasmas
de gente que vai embora, & continua por aí...

II

– A..., menino! Quanto tempo! Tu tá bem?
– P...! Sim, sim! Muito tempo mesmo!
& eu estou ótimo, menina. & você, hem?
– Eu estou também. Obrigada! Escuta...

III

Ao que não posso dar o meu amor, posso
ao menos, dar um tanto mais de tanta atenção

2 comentários:

  1. O que há de estranho nos outros é, geralmente, o que há de mais íntimo em nós mesmos. Mas eu não devia estar ajudando o Don Juan com esse clichê, afinal, fui eu quem lhe pedi indiretamente em casamento no blog de Renato.

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